19 Maio 2024

Renascer dos Vinis no Brasil Salva Cantora de 77 Anos do Esquecimento

Quase meio século foi necessário para que a cantora brasileira Cátia de França encontrasse seu público, mas, com a ajuda de uma tecnologia de áudio quase obsoleta, finalmente conseguiu.

Nascida na Paraíba, estado do nordeste brasileiro, a mistura de rock psicodélico com ritmos tradicionais e poesia modernista de Cátia de França, hoje com 77 anos, permaneceu subestimada, mesmo durante suas turnês pelo país nas décadas de 1970 e 1980.

Durante a pandemia, ela se refugiou em uma área de conservação nas montanhas acima do Rio de Janeiro, onde, segundo ela disse à Associated Press, “nem se pode imaginar um sinal de internet.”

Então, em um dia de 2021, seu telefone tocou. Era o cofundador de uma gravadora independente em São Paulo, interessado em relançar seu álbum de estreia de 1979, “20 Palavras ao Redor do Sol”, em vinil.

“Eu pensei que era uma brincadeira”, lembrou de França. “Mas ele começou a conversar comigo, e percebi que não era.”

Desde então, de França foi catapultada para o centro das atenções, com fãs e concertos no circuito alternativo.

Seu sucesso tardio reflete em grande parte uma reviravolta que está ocorrendo no Brasil, onde, no último ano, os discos de vinil ultrapassaram os CDs e DVDs em vendas pela primeira vez em décadas. A receita dobrou para 11 milhões de reais em 2023, em relação ao ano anterior, e foi mais de quinze vezes maior que em 2019, de acordo com a Pro-Música, uma associação das maiores companhias de discos do Brasil. E esses números incluem apenas lançamentos novos, já que as vendas de segunda mão são quase impossíveis de rastrear.

O mercado de LPs usados nunca morreu completamente e agora está em ascensão, disse Carlos Savalla, um produtor musical de 66 anos no Rio que possui mais de 60.000 discos de vinil.

Há milhares de negociantes de vinil em sites e grupos do Facebook, enquanto aficionados locais e caçadores estrangeiros vasculham feiras, mercados de pulgas e lojas de discos usados em busca de LPs de samba, bossa nova, tropicalismo e Música Popular Brasileira para completar suas coleções.

O retorno do vinil no Brasil segue uma tendência global dos últimos 15 anos. Nos EUA, as receitas com discos de vinil atingiram 1,4 bilhão de dólares em 2023, segundo a Associação da Indústria de Gravação da América. O renovado interesse americano é por vezes atribuído a Taylor Swift, cujo álbum “Midnights” de 2022 foi o primeiro grande lançamento a ter suas vendas em vinil superando os CDs desde 1987. Naquele ano, Swift representou um de cada 25 álbuns de vinil vendidos nos EUA.

No Brasil, o interesse crescente não se deve aos artistas mais transmitidos, que nem estão lançando discos, disse Marcelo Fróes, jornalista e pesquisador musical. Em vez disso, os compradores de hoje são ouvintes interessados em obter álbuns clássicos e descobrir novos artistas ou músicos outrora obscuros.

Até 2008, todas as fábricas de vinil do Brasil haviam fechado. Mas, inspirado por um renascimento na Europa e nos EUA, o produtor João Augusto e seus sócios decidiram comprar e ressuscitar uma antiga prensa de vinil: a Polysom.

“Começamos a relançar álbuns antigos com apelo comercial significativo e demanda. Agora, a fábrica atende gravadoras, artistas independentes e relança álbuns antigos”, disse Luciano Barreira, gerente geral da Polysom.